- Bom dia!
- Bom dia! Mas é bom mesmo?
- Por enquanto não, mas vai melhorar. É porque estou com uma terrível dor de cabeça. Parece que fui castigado em meus sonhos. Parece que sai da cama sem me levantar verdadeiramente. É como se uma parte de mim continuasse dormindo e a outra viesse trabalhar.
- Sei como é. Já tive dias assim.
- Que dor...
- Calma, amigo. Calma. É apenas um sintoma que a maioria das pessoas não sente e quando sente não percebem qual é a causa, mas logo você vai descobrir o motivo de seu sofrimento.
- Tomara. E assim que descobrir cuidarei dessa “enfermidade”.
- Acredito que não seja possível a administração de um medicamento para o que sente. O agressor da sua integridade é externo e invisível, até para a mais poderosa lente. Diga-me. O que sentiu hoje quando acordou pela manhã?
- Senti um grande peso e havia uma imagem em meu pensamento. Era a imagem de várias pessoas batendo em mim, em minha cabeça, com grandes bastões feitos de palavras e letras que se desfaziam e vinham direto em minha direção.
- Continue.
- Logo depois estava mergulhado em um mar de palavras, de letras, de vozes. Afogava-me cada vez mais, deixando bem nas profundezas deste mar o verdadeiro Eu.
- Amigo. Isso é apenas um reflexo e uma pista para suas respostas. O que quero dizer é que nem eu, nem você, nem ninguém é quem realmente deveria ser.
- Amigo. Pode-se dizer que eu sou você. Que você sou eu. Que fazemos parte dos outros e os outros de nós. Somos apenas a reprodução das várias vozes. Vozes...